quarta-feira, 7 de abril de 2010
Oficina Camburi
Oficina de Tecelagem Camburi
Num lugar paradisíaco, ao sabor do vento fresco e salubre da praia do Camburi ergue-se o centro comunitário.
A comunidade do Camburi vive afastada de Ubatuba, devido a longa distância, já que Parati fica mais perto para eles. Eles vivem basicamente do turismo na orla da praia, que é cercada de quiosques bem simples, pequenos restaurantes, onde eles vendem comida típica, comida caiçara mesmo, igual a da minha avó. Mas a Prefeitura está querendo tirá-los da orla da praia para preservar o jundú (vegetação rasteira que cobria quase todas as praias ubatubenses).
Por isso esses cursos são importantes para aquela comunidade, e chegam em boa hora.
Tínhamos três bananeiras cortadas. Começamos a descascá-las como palmitos retirar primeiro as “fibras largas”, sentindo com os dedos as bordas de cada pedaço de bananeira desfolhada e puxando a fibra que não se mistura a “renda”. Depois separamos a “renda”, coisa muito difícil e trabalhosa que consiste em raspar com cuidado até sobrar apenas um resto de fibras entrelaçadas. A renda pode ser usada para recobrir superfícies lisas, tipo: revestir abajures ou encapar cadernos; e também para produzir fios mais delicados.
Mas os fios para tecer é que eram importantes, por isso nos concentramos neles. Fomos passando garfos nos pedaços de bananeira sobre a mesa grande, como se arranhando, mas cortando em fios, que depois foram lavados, tingidos e colocados para secar. Os brancos ficaram de molho no cloro, depois foram colocados também em varais á sombra, num pátio coberto, para secarem. Em três ou quatro dias já estariam prontos para serem usados.
O dia de aprendizagem se encerrava. Para confecção dos fios e tecelagem dos mesmos foi marcada uma nova data, um sábado de tempo a bom dali a duas semanas.
Parece complicado ou trabalhoso, mas na verdade é bem simples, sem muito segredo.
Os fios prontos, secos e umedecidos. Hora de aprender a trançá-los em garrafas pet, potes de vidro e até ao redor de bambus. Depois fizemos trançinhas bem finas para enfeitar as bordas, e tampas de trançinhas enrodilhadas.
Também aprendemos a fazer chinelos de fibra de bananeira, grandes e pequenos, para serem usados como chaveiros.
Passamos as técnicas de tear, com teares muito simples, construídos de quadros de madeira e pregos ou palitinhos de sorvete que qualquer um pode fabricar. Com esses teares de pregos podemos fazer tapetes, cortinhas, colchas, etc; e com os de palito fazemos tiaras e cintos.
Na verdade, podemos fazer com a fibra de bananeira tudo que a imaginação alcançar. Uma senhora fez uma tartaruga de pano e revestiu com a renda, e ficou muito bonito! Ora, agora é colocar a cabeça para funcionar, que matéria prima é o que não falta!
Denise Amaral Pinto
Dona Maria Benedita do Amaral, esposa do finado Mário do Amaral, que foi chefe de carceragem do extinto presídio da Ilha Anchieta, aprendeu "o fuso de pião" com a sua avó, Dona Danira, moradora da praia do perequê-mirim e que comercializava os fios que produzia.
Maria Benedit a, apelidada de "Filhinha", nome pelo qual até hoje é conhecida, por volta dos oito anos já ajudava a avó no oficio, para que Dona Danira a levasse para dançar na capela "São Gonçalo".
Depois que se casou, Dona Filhinha foi morar na Ilha Anchieta e distanciou-se do fuso. Lembrou-se dele porém, ao ouvir sua neta, Denise Amaral Pinto, contar sobre o que está aprendendo agora no curso de tecelagem.
Dona Filhinha tem 89 anos, mas esfrega os dedos imitando o gente de fiar com perfeição e entoa a cantiga aprendida na capelinha onde dançava para os seus santos. Em seu rosto exibe a alegria daqueles que guardam um maravilhoso segredo que o tempo pensava haver varrido para longe da vida cotidiana, mas que torna a brotar, a renascer, com aquele mesmo gesto, num rosto mais jovem.