quarta-feira, 16 de junho de 2010

MUSA vídeo

Em busca da fibra perfeita


A MUSA vem enfrentando certa dificuldade em manter sua fibra em bom estado de conservação em virtude de não usar materiais agressivos ao meio ambiente na preparação de suas fibras. Por isso houve a necessidade da busca por uma nova maneira de confeccioná-las.
Essa busca começou na internet, onde foi encontrado o site da Abevila (Associação Beneficente de Vila Maria), na cidade de Paripueira – Al. A boa apresentação do trabalho da Abevila com a fibra de bananeira nos chamou a atenção e a convite de seu patrono Juan, Déby (coordenadora da MUSA), e uma de suas alunas, Denise (eu), se puseram a caminho do estado do Alagoas a fim de conhecer de perto o trabalho da Abevila e demais oficinas que pudessem encontrar para enriquecer nosso trabalho na MUSA.
Quem nos recebeu na cidade de Paripueira foi Amaro, atual presidente da Abevila. Paripueira é uma cidade do litoral norte alagoano cuja infra-estrutura e pólo turístico faz lembrar, em muitos aspectos, a nossa cidade de Ubatuba. Dentro deste contexto temos a realidade maravilhosa das águas em vários tons de azul e verde, proporcionados pelos corais e pelos vários níveis de profundidade das águas costeiras, os coqueirais á perder de vista e a boa vontade de um povo simples e alegre que faz tudo para que seus visitantes se sintam em casa (e nesse ponto eles são insuperavelmente melhores que nós, caiçaras paulistanos).
A Abevila tem sua sede numa suntuosa casa no centro da cidade onde também funcionam outras oficinas de pintura, teatro, etc. Tem também um galpão onde são confeccionados chinelos, sandálias e bolsas com a fibra de bananeira e uma loja á beira mar num ponto turístico importante, de onde partem os catamarãs na praia para levar os turistas á mergulhos nas piscinas naturais.
Mas o trabalho com a fibra de bananeira da Abevila ainda é rústico, os procedimentos usados na conservação da fibra, como o uso do cloro e produtos próprios para piscina são agressivos ao meio ambiente. Além disso, a Abevila enfrenta ainda problemas como a falta de estímulo de seus integrantes e a busca por uma melhor capacitação dos mesmos na confecção de seus produtos.
Nossa pesquisa continuou.
Amaro se ofereceu para nos levar até Maragogi. Ele também se interessou em fazer parte da nossa pesquisa.
Encontramos lá Mestre Isaias, o primeiro a se especializar em fibra de bananeira na região. Mestre Isaias mostrou-nos seus trabalhos de seis anos atrás, todos em perfeito estado, o que nos deixou maravilhadas. Ele explicou-nos que não lavava a fibra, apenas os cortava e colocava para secar imediatamente, e que trabalhava apenas com banana “prata”. Isso foi para nós um grande espanto e uma felicidade. Ele ainda nos mostrou sua pequena oficina no quintal de sua casa enquanto nos explicava como fazer filés com a fibra de bananeira, trabalho que ele vem ensinando nas cidades vizinhas e em Recife, com o apoio do SENAC. Mas mestre Isaias enfrenta o problema da falta de matéria prima para confecção de seus trabalhos, o que o tem desanimado muito.
Ele nos levou até o assentamento do Junco, próximo a Itabaiana para que víssemos o trabalho das alunas de suas alunas. Lá encontramos dona Nadeje, que nos levou a conhecer dona Quitéria - coordenadora do Movimento de Mulheres Trabalhadoras e Pescadoras de Alagoas, e presidente da Associação Mulheres de Fibra, que trabalhava sem descanso para preparar as peças que iam para uma exposição em Brasília. Um trabalho maravilhoso em filé de fibra, rico em detalhes e de ótima qualidade.
Tínhamos a resposta final de nossa pesquisa. Era algo simples e fácil, mas que ainda não tínhamos imaginado, sequer tentado. Viemos de tão longe para conhecer essas pessoas humildes que nos ensinavam algo tão precioso.
Antes de partir ainda visitamos Maceió e conhecemos seu artesanato. Na orla da praia encontramos Mestre Antonio Lins fazendo seu trabalho com folhas de coqueiro, que ele transforma em chapéus, tartarugas e muitos outros animais. Tivemos o prazer de conversar com dona Mariquinha, única cordelista a dominar essa técnica tão masculina e que nos recebeu com versinhos muito bem humorados.
Nada vale mais que esse conhecimento, do que essa riqueza de detalhes do povo nordestino que nós, paulistanos, não estamos acostumados. Trouxemos um pouco desta cultura conosco para aprendermos o que até as crianças de lá já sabem.
Temos um longo caminho pela frente, mas chegaremos lá. Tenho certeza.
Denise Amaral